quarta-feira, 9 de outubro de 2019

São tempos de despedidas!

Tá acabando, porraaaaa!!!
Em 4 dias! Ahh, coisa mais linda, vou poder andar de pijama pela casa, cozinhar e comer o que eu quiser, na hora que eu quiser, quanto eu quiser, rolar pro chão com meu cachorro, sentir calor, poder tomar todo tipo de remédio que eu precisar (na Holanda, só existe paracetamol), não ter ninguém sendo estúpido dentro de casa, escutar e falar A MINHA LÍNGUA! Poder me expressar direito EM PORTUGUÊS! Beber cerveja gelada! Resumindo… ESTAR EM CASA!
Tá em letras grandes pra reforçar que uma das coisas mais difíceis pra mim nesse Intercâmbio foi morar na casa dos outros. Misericórdia! É insuportável não estar em casa, não se sentir em casa e ter que ficar de mimimi que aupair é parte da família. "O cú" que é parte da família! Não mesmo!
But, entre altos e baixos (na minha língua de pessoa exagerada e extremista, entre picos e buracos), eu tive um ano incrível aqui! Vivi tudo e mais um pouco, sempre no limite. Os momentos bons, em que me sentia explodindo de alegria e, os momentos de bad, quando parecia que ia morrer de tanta tristeza. Foi TUDO too much.
Me apaixonei mil vezes, sofri horrores com cada "fim" (entre aspas porque nunca começou né, migas?! Só na minha mente!), tive incontáveis dates, viajei pra 12 países, sozinha e com amigas. Cai de bike. Deixei a bolsa na estação de trem e vim embora pra casa (só descobri quando não encontrei o controle pra abrir o portão). Visitei mais de 20 cidades dentro da Holanda. Engordei, emagreci, engordei. Me estressei com a minha host um milhão de vezes e também torci por ela outro milhão de vezes. Me afastei de amigas, fiz novas amigas e mais novas amigas… fumei muita maconha! Perdi alguns trens. Me questionei "Por que não eu?" e também "Por que comigo?". Causei em baladas dançando muito funk brasileiro ou cantando no karaokê. Vi a neve pela primeira vez. Passei muito frio e também muito calor (eles têm um total de 0 estrutura pra tempo quente). Me despedi de muita gente que eu gostava e que se foi antes de mim, deixando saudade...
Acho que de tanto, chegou um momento em que eu cansei. E, quando já estava cansada, ainda passei por um "fim" conturbado com um holandês e isso me trouxe um cansaço emocional ainda maior. Uma vontade só de ir embora, sabe?
Eu acredito que o que a gente sente vai com a gente onde quer que a gente vá. Mas acho que algumas coisas, tipo esse cansaço de já estar aqui há quase um ano, pode sim ser resolvido com a volta pro lar. O colo dos seus pais. A alegria dos amigos. A euforia do seu filho cão. A comida da mamãe. A sua língua. Sua cultura. Seu espaço. Sua liberdade.
"Ahhhhhh…. Porque o Brasil tá uma merda!",  "Porque o Bolsonaro é um lixo de presidente", "Porque não tem emprego.", "Porque tá tudo caro.".E blablabla...
Tá bem. Pode ser verdade, acho que é! Mas no que seu ódio ajuda?
Então, tava falando… minha vontade de ir pra casa chegou! Mesmo que recomeçar seja tão amedrontante! Medo de não ter amigos, de não ter com quem sair, de me acharem feia (porque engordei bastante nesse tempo aqui), de não ter emprego, de ficar injuriada e tantas coisas mais. Porque, na real, eu não faço nenhuma ideia do que fazer da minha vida ao retornar. Mas eu creio e espero que algo de muito maravilhoso me será possível. E tô aí, aberta!
Ser aupair é uma experiência incrível. É aprendizado, amadurecimento, progresso, conhecimento, socialização e tudo. Mas tá pra nascer classe pra passar mais perrengue que a nossa. É MUITO perrengue!
Você precisa ser forte! Precisa aguentar. É você por você. Apesar das amizades, se você não segurar sua barra, às vezes, ninguém pode segurar. Não por mal, não por nada. Mas porque tá todo mundo no mesmo barco tentando fazer seu melhor e se manter firme, em pé.
Às vezes, pela janela do trem, fico vendo tudo passando bem rápido (rápido tipo a vida mesmo, tipo esse ano) e tento forçar meus olhos pra ver tudo, pra não perder nada. Tiro fotos que nunca vou ver, de paisagens, só pra garantir que se um dia eu esquecer tudo que vi, eu posso olhar pelas fotos. Posso me lembrar do quanto minha vida é extraordinária.
Porque pra mim as coisas são um flash. Esqueço tudo rápido, coisas boas e coisas ruins. E, como bem me conheço, daqui a pouco tô resmungando por aí, dizendo que minha vida é monótona, que não acontece nada e etc.
Não!!! Toda vez que eu sentir isso, preciso olhar as fotos e relembrar de que em um ano aqui aconteceram coisas (internas e externas) pra mais de 84 anos (adoro usar esse número do meme do Titanic hehe).
Dentre essas coisas, coisas que só quem é/foi aupair na Holanda pode entender.
❤️Tipo usar o banheiro do trem pra economizar 70 cents. E sair com a perna toda mijada mas com 70 cents salvos.
(Porque aqui você paga pra ir ao banheiro em 95% dos lugares)
Ou, tem a opção de ir na Primark pra usar o banheiro.
❤️Beber água de qualquer torneira, inclusive dos banheiros. Ou seja, se você decidir pagar os 70 cents pra algum banheiro, já aproveita pra encher sua garrafinha (e poupa 2 euros da água comprada no supermercado hehe #aupairlife=nosso lema é economia). Menos o banheiro da Primark, porque lá a água da torneira é quente (acho que fazem de sacanagem rs).
❤️Ir na Tonnys em Amsterdam comer chocolate de graça (quem não sabia, pega essa informação).
❤️Sair que nem maluca "roubando" comida dos hosts quando eles não tão em casa.
❤️Sair de um date frustrada porque apesar de ter sido legal o holandês não te beijou (mas isso é que é normal pra eles: não beijar no primeiro encontro).
❤️Instalar 5 apps de relacionamento (fica a dica de alguns aqui: Tinder, Happn, OkCupid, Bumble) pra ver se dá jeito na coisa, mas só se complicar cada vez mais e mais.
❤️Não saber falar o nome do cara que você tá saindo haha
❤️Viajar 3576335 horas de ônibus pra conhecer outros países, porque é o que dá pra pagar - ônibus.
❤️Ter ranço dos seus hosts pelo menos umas dez vezes durante o ano (ok, tem algumas excessões, mas são bem poucas).
❤️Pensar ao menos uma vez em desistir e onde você tava com a cabeça quando decidiu fazer isso.
❤️ Muitas coisas mais...
❤️❤️❤️E, não pra todas, mas pra muitas e, especialmente, pra mim, nesse momento, se sentir feliz quando chega a hora de dizer "tchau" e até quem sabe um dia.
See u, minha querida Holandinha!



quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Não é sobre aupair. É sobre depressão!

Eu em um intervalo de
menos de 2 horas
.
Me pediram pra eu escrever sobre como estão sendo meus últimos dias no intercâmbio e, eu até vou escrever qualquer hora mas, agora, eu quero falar sobre depressão. A depressão vista por mim. A depressão que é minha companheira (a pior) desde tanto tempo, talvez desde quando eu tinha uns 13 ou 14 anos de idade.
Entre melhoras e pioras, tratamentos (infindáveis) e outros diagnósticos, é com ela que acerto minhas contas no final do dia e, tantas vezes, é ela quem também me recebe logo quando eu acordo.
Digamos que nunca é fácil, mas nesse fim de intercâmbio, ela veio com tudo. Tomou meu brilho, minha autoestima, tem me feito engordar e minhas roupas não mais me servirem; me trouxe uma dermatite horrorosa no rosto, que me faz querer passar maquiagem até pra sair do meu quarto; e, no cabelo, onde tenho uma coceira e descamação incessantes e, a cada vez que coço, parece que tá caindo uma nevasca.
A impressão que eu tenho é que morri mas continuo respirando.
Estou apática, paralisada. Meus olhos não brilham mais, o coração não mais dispara. Não tem mais emoção muito menos euforia. Nada me encanta. 
O fingimento e a falsidade se tornaram quase que uma profissão. E estou ficando cada vez melhor nisso. Posso sorrir, trabalhar, vibrar com uma amiga, postar fotos sorrindo, dizer coisas engraçadas. E ninguém nem percebe que dentro de mim tá tudo arruinado. Que eu penso na morte involuntariamente. 
Ninguém sabe o quanto me sinto um peso, inútil, sem propósito.
Ninguém sabe e nem haveria porque saber, mas essa dor destrói tudo. Não existe autoestima, não há alegria, empolgação, fé, não há nada. Só o que há é sofrimento e fingimento.
E o dia em que eu não mais puder disfarçar o pouco que eu consigo agora, então provavelmente ficarei um pouco mais sozinha do que já tô. Vai sobrar só os mais importantes, minha mãe e meu pai. Talvez nem minha irmã. Que dirá amigos.
Já não tenho muitos. E os poucos hão de ir. Porque ninguém gosta de gente triste. Nem eu aguento ou gosto de estar comigo, por que alguém gostaria?
Depressão faz você sentir vergonha de você. Do seu corpo. Do que você diz. Das suas reações. Das suas preferências.
Não espere me ver chorando pela rua. E quando me perguntar como estou, pode ter certeza, eu vou responder "tá tudo bem", e eu vou sorrir.
E se um dia eu parar de sair na rua, sorrir enquanto te cumprimento, postar fotos felizes no Instagram, pode ter certeza que foi porque desci um pouco mais no poço (e espero não chegar lá de novo). Porque enquanto eu permanecer aqui onde estou, vou continuar sendo uma boa atriz. A farsa toda acaba até ajudando a ter uma imagem a "zelar".
Pensa que eu não sei quanta gente não ficou na minha vida porque eu estou assim?
Quantos caras correram quando perceberam minha carência, minha dor, meu medo?
Quantos amigos não perguntam mais como eu tô porque já sabem a resposta?
Por isso sigo amando meu cachorro mais que tudo. Ele lambe as minhas lágrimas e fica perto de mim, não importa o tamanho do machucado. Haha :)
Não, eu não vou me matar. Não se preocupa. Acredito que a dor de um suicida, no plano espiritual, é inimaginavelmente maior que essa de agora. E eu não faria minha família sofrer mais do que já sofrem me vendo assim. Das poucas certezas que eu tenho, uma é de que eles não merecem isso.
Mas, tem gente aí se matando. Eu entendo tanto eles! Jovens, adolescentes, adultos, crianças, idosos, essa doença maldita não escolhe idade, classe, lugar. Ela só se instala e vai te matando devagarinho.
Se eu puder dar uma dica: Olhe a sua volta! Pais, olhem seus filhos! Eles podem estar só fingindo estar bem. Não julgue, não critique, não diga que a depressão é proveniente do ócio, da falta de Deus ou do diabo a quatro. Só estenda a sua mão. Leve no médico, no psicólogo, num jardim para tomar sol e ver a cor das coisas. Ajude com pequenas atividades diárias. Um banho, pentear o cabelo, comida quentinha, uma conversa ou até mesmo o silêncio.
Há dias que são melhores. Mas até nesses dias é muito claro como ainda sinto a doença em mim. É como se ela dissesse "ok, querida, você tá verdadeiramente se divertindo, mas não esquece que eu moro aqui dentro, viu?! Amanhã a gente se vê!".
Então, esse texto não é pra ninguém ter dó de mim. Pra ninguém me mandar mensagem (aliás, por favor, não faz isso!). É só pra me expressar. Porque nas últimas duas semanas vi dois jovens de 16 anos, bem próximos de pessoas que eu gosto, se suicidando. Em desespero! Deixando para trás família, amigos, uma vida inteira pela frente (vida essa que eles não queriam viver tão tristes) e, certamente, nesse momento, devem estar sofrendo mais do que já estavam.
Eu só quis dar voz ao que ninguém fala, ninguém mostra. As pessoas com qualquer tipo de doença podem falar/escrever sobre seus sintomas, suas reações, tratamentos, e tá tudo bem. Mas falar sobre doenças da alma ainda assusta tanto!
Antes que seja tarde, olhe além das aparências, exercite sua empatia, não acredite só nos sorrisos que as redes sociais te mostram. Seja presente. Seja um presente na vida de quem sofre. Ninguém sofre porque quer. As pessoas sofrem porque não conseguem parar. E, aí, pra deixar de incomodar ou deixar de fingir, elas tiram suas próprias vidas.
Que em breve eu me sinta, mais uma vez, renascendo.
E, a propósito, se alguém te disser que pessoas com doenças emocionais não podem ser aupairs de sucesso, eu preciso discordar. 
Não é fácil pra ninguém. Pra quem tem esse tipo de problema, mais difícil. Mas longe de ser impossível!
Eu sou a prova - ano de aupair sendo concluído em 17 dias e eu mal posso esperar pra voltar pra casa. E, sim, ser cuidada. Não importa quantos anos você tem, às vezes, só precisa de cuidado.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Dos amores que descobri...

Na noite passada, enquanto ele adormecia nos meus braços, rolando de um lado pro outro, brincando com os meus dedos e me fazendo massagem com seus dedos pequeninos, eu comecei uma viagem de volta ao dia em que cheguei na Holanda.
Eu comecei a pensar em quantos amores eu descobri enquanto estive aqui.
Ele, que dormiu e, eu, que normalmente sairia correndo pra aproveitar o tempo livre, fiquei ali abraçada a ele, sentindo o cheirinho dele, naquela cama aconchegante e quentinha, ouvindo sua respiração de quem descansava seguro porque eu estava ali e comecei a pensar na minha vida ao mesmo tempo em que olhava as estrelas fluorescentes coladas no teto.
Eu sempre tive tendência de dizer que não gosto de crianças, o que pode soar bastante agressivo e contraditório pra quem foi professora por cinco anos e se propôs a fazer um intercâmbio onde a principal função é cuidar de crianças. Mas, quando eu decidi fazer isso, decidi fazer como um trabalho mesmo e pensei: "posso suportar um trabalho que não gosto por um ano!".
Só que esse menino! Ah, esse menino foi me ganhando! Mas foi lento. Eu fui bastante resistente! E eu achei que poderia sair ilesa. Eu achava que era mentira quando ouvia as outras aupairs dizendo que sentiam saudades de seus hosts kids. Achava que era história!
Os primeiros meses foram difíceis, embora eu fizesse de conta que estava tudo muito bem. Ele era mimado, birrento, briguento. Quantas e quantas manhãs e noites, antes de dormir, não assisti ele e a mãe brigando de igual pra igual.
E não me conformava com a falta de limites!
Não aceitava ele mover o mundo com seus quereres, com seus xiliques. Não entendia porque explicar todos os nãos a uma criança de seis anos e estar sujeita a sua aceitação ou não.
E, se não, vinha muita discussão! E, acreditem, italianos discutindo (leia-se "brigando") é assustador.
Bem, nem a mesma língua eu e ele falávamos!
Eu com meu inglês mais ou menos e, ele, com seu italiano e holandês.
Mas a gente foi aprendendo a se entender. Por olhar, por segredinhos trocados, por brincadeiras, por toques. Eu fui ensinando a ele todos os valores que tenho em mim. De respeito, merecimento, gratidão, empatia e acho que ele foi pegando.
Não sou Deus e obviamente não sou eu a responsável por toda a melhora dele.
Acho que é um conjunto de fatores, desde amadurecimento, tratamento psicológico, a mãe que teve um avanço emocional muito positivo (ela estava bastante abalada com o falecimento recente do marido. E, óbvio, meu kid abalado com o falecimento do pai. Natural os comportamentos mudarem!), até, humildemente falando, minha breve temporada na vidinha dele.
O fato é que me dá um orgulho imenso ver o garoto que ele é hoje! E ver ele agindo ou fazendo pequenas coisas que eu ensinei, que aprendemos juntos.
Hoje ele fala inglês. Igual o meu. Bem mais ou menos, mas fala e entende e se comunica. Não faz mais escândalo pra tomar banho todos os dias. Come verduras variadas. Dorme sozinho na sua cama. Sabe que pra fazer/ter coisas que gosta, precisa também fazer coisas não tão legais.
Muitas vezes a gente ri juntos. Jantamos no tapete quando a mãe dele tá viajando. Fazemos cosquinha um no outro. Brincamos de estalar os dedos. Futebol. Bolinha de gude. Cartas. Caretas.
Brigamos quando ele quer ganhar a todo custo nos jogos, quando ele desimbesta a falar e argumentar coisas já decididas ou quando não aceita um "não" (a propósito, sempre tive a mesma dificuldade!).
Algumas vezes já choramos juntos também, porque ele sente saudades do pai. Nesses dias, a gente só fica quietinho e ele sente o que quiser.
Ele cuida de mim mais do que eu dele! 
Quando tô triste ele quer me animar. Quando a abelha mordeu meu braço e fiquei muito ruim, ele queria me levar ao médico e disse que sabia onde era, pra eu não me preocupar.
Ele não entende porque eu tenho que ir embora. Ele diz que eu posso ficar e se eu quiser também posso trazer o Neno (meu cachorro - o qual me queixo de muitas saudades). 
Acho que ele merece muito mais do que eu normalmente ofereço mas, no momento, esse é o meu melhor. E sabe do que? Ele acha que tá ótimo. Ele às vezes fica chateado com as minhas rabugentices mas não dura 1 minuto e já tá brincando de novo, rindo e me fazendo rir.
Parece que abstrai eu ser chata com ele!
Coisa mais linda quando chego na escola pra buscar e ele me recebe com abraço e beijo. Não tem vergonha e parece não ser sentir menos por ser eu a estar ali e não a mãe ou o pai dele. Ou então quando vou levar ele na escola sem antes tomar meu café da manhã e ele me manda voltar logo pra casa pra comer. Fim de semana quando ele se preocupa em não fazer barulho porque estou dormindo. Ou quando elogia minha comida.
E, sabe, ele não se preocupa se estou magra, gorda, bonita, arrumada ou cheia de pereba. Pelo contrário. Ele quer me levar ao médico pra ver minha dermatite na cabeça e sempre dá uma olhada pra ver se tá melhor. Quando me vê maquiada, pergunta porque eu tô daquele jeito e, quando eu respondo que é pra ficar mais bonita, ele sempre faz cara de "tava mais bonita do outro jeito". Ele gosta de apertar minha barriga, brincar com as minhas partes fofinhas e, sabe… pra ele tanto faz, porque ele parece enxergar o que trago dentro de mim, na minha essência.
O nome disso é amor.




segunda-feira, 29 de abril de 2019

Dublin - roteiro e dicas


Dublin me surpreendeu! Fui achando que três dias seriam muito e sobraria tempo. Voltei encantada e querendo mais uns diazinhos. Claro, isso porque não fiquei só ali no centrinho. Se ficasse só lá, um ou dois dias seriam enough.

Fiquei hospedada no hostel Abbey Court. Super recomendo. A localização é excelente, o hostel é bonito, todo grafitado, tem quartos limpos, arejados, camas confortáveis, café da manhã ótimo (nem parece de hostel hehe); a única coisa que não curti é que o banheiro era fora - e longe - do quarto. Pra alguém que precisa levantar pra fazer xixi a noite inteira e ainda estava no andar de cima de um beliche, não foi muito bacana rs.



Cheguei no aeroporto e precisei pegar um ônibus pro meu hostel. Tem um ônibus que eles chamam de express e vai direto ao centro, porém custa 7 euros. Descobri que tinha ônibus normal, que custava 3,30 euros. Peguei o número 16 e desci na O'Connell Street. Foram 30 min de ônibus e mais 4 andando até o hostel.
Uma dica é que pra pegar ônibus você precisa ter sempre moedas (e no valor exato), porque eles não aceitam notas nem cartão e, se você der moedas a mais, não te devolvem troco. Achei bem bizarro isso!

No primeiro dia, peguei um ônibus (3,30 também) e fui pra Hownt, uma vila de pescadores bem pertinho de Dublin.
Inclusive, perdi o primeiro ônibus que eu estava esperando por não ter moedas (foi aí que eu descobri sobre isso). Fui então ao mercadinho trocar dinheiro e voltei pro ponto pra esperar o próximo bonde.
Foi então que entendi realmente porque perdi o primeiro ônibus! É porque Deus ajuda a gente rs
Do meu lado, chegaram duas minas falando português e, pronto.. ganhei amigas para o dia todo! Fomos juntas, passeamos juntas e voltamos juntas.

Você deve descer no último ponto do ônibus, provavelmente onde a maioria das pessoas vão descer. E, de lá, saem algumas opções de trilhas pra fazer na beira de uns penhascos com vista exuberante.
Fizemos alguns caminhos e depois pegamos um trilha maior pra retornar à vilinha e, lá, tomar um sorvete, comer algo e relaxar.
Andamos um total de oito km. Sugiro que vá com roupa e tênis de ginástica, porque eu não fui por não saber, mas senti falta.




À noite, dei um rolê na região do Temple Bar, área boêmia e badalada de Dublin, onde uma Guinness - tradicional cerveja irlandesa - custa na média de 6 euros.
A gente (eu e uma das meninas que conheci no passeio de dia) foi no Bad Bobs Pub, um dos mais famosos, com música ao vivo, ótimo lugar para aqueles dias que você não está tão animado para uma balada (até porque tava morta de tanto andar), mas mesmo assim quer curtir um lugar agradável (até porque precisava aproveitar que estava lá rs).



No segundo dia, eu comprei um passeio para o Cliffs of Moher, o ponto turístico mais visitado da Irlanda. Comprei pela empresa Irish Day Tours, por 45 euros. - https://www.irishdaytours.ie/
Sei que tem jeito de ir por conta própria e fica mais barato, porém não sei como funciona.
As vantagens de ir com excursão é que você não se preocupa com nada. E, na volta, passaram rapidamente na cidade de Galway também.

Entrei no ônibus e uma moça me disse, em inglês, você não quer se sentar aqui, porque também estou sozinha... E eu sentei.
Aí ela seguiu perguntando de que país eu era e, no que respondi “Brasil”, ela riu e disse pra gente então falar em português hehe.
Mais uma amiga brasileira que seguiu comigo o dia todo!
Uma querida!
#imãdebrasileiros

Gostei da empresa que comprei o ticket pro passeio, motorista atencioso, educado, pontual, o único problema é que fala mais que a boca, até cantar a criatura cantou (várias músicas) - no MICROFONE do ônibus. Eu querendo tirar um cochilo e ele matracando.
Mesmo assim, achei que valeu a pena o valor!
Dica: leve lanchinhos pra comer durante o dia e vá com sapatos confortáveis.
O lugar é indescritível de lindo! Os maiores penhascos com o mar batendo lá embaixo. Perfeito!
Se você tem medo de altura, avalie se vale a pena.




Cheguei morta no hostel, tomei banho, me arrumei e fui pra uma balada que me chamaram - Dicey's. Toca altos funks, música brasileira e só tem brasileiro. Ahhh, é basicamente uma balada brasileira em Dublin. Vale a pena! Todas, escutem, todas as cervejas custam 2 euros. É muito barato!!!
Fui mas não fiquei muito porque já cheguei da Holanda em Dublin com o pé destruído, doendo muito mesmo, com bolha, calo etc. No que fui fazendo os passeios em Dublin, andando pra cassete, foi piorando, então, eu não estava aguentando nem andar direito, que dirá dançar. Confesso que também fui embora porque as duas meninas que estavam comigo se arranjaram com uns boys lá e eu fiquei aleatória rs
Mas valeu a pena conhecer!

Terceiro dia, dia de ir embora! Eu tinha só esse dia pra conhecer os pontos turísticos da cidade mesmo, porque até então não tinha visto nada ali no centro.
Só que não tava dando pra calçar sapato, de tão machucado que estavam meus pés. Então, decidi ir de chinelo mesmo hahaha
Tava ridícula? Tava ridícula.
Mas pelo menos eu conheci as coisas.



Segui a numeração do mapinha abaixo. Como vocês podem ver, tudo fica muito perto do hostel.
Sinceramente, os pontos turísticos desse centrinho não encheram muito meus olhos. Quero dizer, não achei nada muito demais. Mas, claro, vale a vivência!




O tempo fechou. E, quando entrei no bondão (número 16) pra ir pro aeroporto, foi que começou a chover!
O nome disso: sorte! Chover só quando você tá indo embora (e já calçou o tênis rs).


Fui embora feliz, cheia de novas bagagens, cenários, perrengues e ops, falando em perrengues, com cinco euros pra comer no aeroporto. Deu um hambúrguer rs
Foi o que sobrou. Isso que fiz um sanduíche clandestino no café da manhã do hostel e comi no almoço.

Dublin, RECOMENDO!
Muita gente me disse que não tinha nada pra fazer em Dublin, que três dias eram muito pra ficar lá. Preciso discordar por completo.
Claro, se você ficar só ali no centrinho, é muito, mas se você explorar minimamente um pouquinho a mais… é suficiente, ou pouco.

Uma coisa que me chamou muita atenção lá foi a quantidade de moradores de rua. Coisa que a gente não tá acostumada a ver muito pela Europa. Mas ali vi muitos e muitos, sendo que a maioria é muito jovem e também aparenta estar sempre fora de si, talvez seja o uso de álcool ou drogas, eu não sei. Mas vi rapazes, moças, até casais, sentados pelas ruas pedindo dinheiro.

Achei as pessoas muito simpáticas e solícitas.
Na realidade, parece o Brasil! Haha
Você anda na rua e escuta português TODO O TEMPO.
Parece que toda a mão de obra de serviços da cidade é formada por imigrantes. Acredito serem pessoas que se lançaram a sorte, tentando melhorar de vida. E, dentre esses, está uma grande porcentagem de brasileiros. Parece ser um caminho meio sofrido.

Vale a pena conhecer!
Enjoy the trip!

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Amor & Dutch boys - 6 meses na Holanda

Seis meses de Holandinha!


Ainda me encontram e dizem “ah, você é menina do blog!”, o que faz queimar minha cara de vergonha, porque se tem uma coisa que não faço, essa coisa é escrever nesse blog.
Por mais que eu ame escrever e ame o retorno que tenho sobre isso, de meninas que nunca vi na minha vida mandarem mensagens dizendo que tô motivando, ajudando, que me pedem pra continuar e tals (e isso não tem preço!), mesmo assim, não escrevo. E, comecei a me perguntar o porquê. Por que me sabotar de algo que me faz bem?
Bem, à princípio, o propósito era compartilhar minhas experiências aqui.
Mas daí refletindo sobre isso cheguei a conclusão de que eu não curto escrever sobre minhas experiências se eu não puder descrever todos os sentimentos e emoções envolvidos.
Percebi que pouco me importa falar sobre viagens, pontos turísticos e afins se eu não puder falar sobre tudo que senti em cada rolê.
Daí, ok… Seria só eu falar, né?
Não! Acredito que há coisas que não devem ser escritas haha, pra não chocar ninguém, não me dar dor de cabeça e eu não ser deportada nem presa (brincadeirinha, não é pra tanto rs).
Por exemplo, se eu falar sobre como está sendo ser aupair, sem ser de maneira superficial (tipo: “ah, é uma experiência muito enriquecedora”), provavelmente eu vá criar grandes problemas pra mim haha. Melhor deixar quieto!
Eu decidi, então, falar sobre o amor, os holandeses, as expectativas, aplicativos e afins (bem aleatória essa troca de assunto, né?! Mas é gostosinho diversificar bem no meio da conversa).
Gente, vim pra cá plena de que o boy da minha vida é um holandês. Romântica! Imaginei um filme daqueles em que o amor supera todas as distâncias. Cheguei aqui, choquei com a beleza dos benditos. Desculpa aí as manas que não curtem palavrão, mas PORRAAAAAA, vão ser bonitos assim lá em casa hehe
Altos, loros, olhos claros, um Rodrigo Hilbert a cada esquina. Não cheguei a tanto, mas as meninas dizem nos grupos de aupair: “migas, o que eu faço? Tô apaixonada desde pelo carteiro, o pintor, o professor do kid, o amigo do host, o repositor de estoque do Albert Heijn” e por aí vai…
Tá, eu sou exagerada. Mas a formosura deles também é.
Entrei pros aplicativos de relacionamento da vida. Tinder, Happn, OkCupid, Bumble…
Uma percepção é que, alguns, quando você diz ser brasileira, pensam imediatamente em sexo, bunda e samba. Alguns pensam que brasileira é tudo uma espécie de puta. Daí quando é assim a gente chega junto, com jeitinho, e manda tomar no cú.
Outros são completamente vidrados em latinas, especialmente brasileiras. E se derretem. Arranham até um português.
Tem também uns alienados que quando você diz que é brasileira soltam um “Hola, cómo estás!?”. Gente, alguém diz pra esse povo que a gente não fala espanhol!
E, tem aqueles que quando você diz que é aupair desfazem o match e correm. Seria esse o retrato do medo do “visa partner”?
Bom, e daí começaram os meus dates. O tempo passando aqui e daí eu (e todas as minhas amigas) sacamos que além de amazing eles também são um pouco lerdinhos (ou seríamos nós acostumadas negativamente com o padrão brasileiro?).
Eu tive a sorte de só ter dates legais, com caras lindos, que pagaram a conta, me trataram que nem princesa, beijaram bem e, sim, tenho convicção de que gostaram de mim também. Mas o ponto é que a coisa não desenrola. Não passa de um date. Não rola o segundo. E sei de meninas que passam pelo mesmo. Porque, do contrário, poderíamos (eu e vocês) pensar que o problema sou eu. Tipo, os caras não dão continuidade porque você é chata. Hahaha… mas, real, não acho que é isso.
Eu tive o segundo date apenas com dois caras aqui. Um deles, holandês. Mas me mandou mensagem depois do segundo date dizendo que não estava preparado pra um relacionamento sério porque se encontrava num momento delicado da vida, emocionalmente afetado com o divórcio dos pais (mew, quem se afeta nessa proporção com o divórcio dos pais quando se tem mais de trinta anos?).
O outro… advinhem? Brasileiro! Haha e daqueles que nem vale o esforço, que não “entrega um serviço bem feito”. E, se é pra trabalhar sozinha, eu faço isso sozinha mesmo no conforto da minha residência hehe. Se é que me entendem!
Pra completar, descobrimos que ele é/era (não sei) uma espécie de conquistador de aupairs. Fica, faz o apaixonado, promete o mundo, leva pra viajar, paga coisas caras e depois vaza. Ahhhhhh, me poupa, né? Eu lá tô interessada só em dinheiro? Quero o pacote completo, fofo!
Desse pulei fora BEM antes de apaixonar. Glória a Deus!
Tive até que sorte com os dates, quer dizer, tirando um que o cara disse que não usava maconha. Eu perguntei o porquê e ele disse… “ah, eu prefiro LSD, cocaína, êxtase e etc”. E ele disse que não vicia e não faz mal. E eu fiquei querendo me teletransportar dali.
Tenho amigas que já relataram situações bem nojinho, tipo uns boys que tem cheiro forte (de cc mesmo), especialmente embaixo dos braços. Alguns não escovam os dentes, outros disseram pra elas emagrecem, outros não beijam em primeiro encontro.
Enfim. Não é minha intenção generalizar nada. Eu acho que existe todo tipo de gente em todo lugar. Não acho que são os holandeses, os suecos, os brasileiros, os britânicos ou os asiáticos. Acho que são pessoas. Com qualidades, defeitos, limitações. Acho que quando é a hora de cada um, simplesmente é. Aqui ou em qualquer lugar do mundo. Se for O SEU bem, ele vai ficar.
Às vezes, claro, bate aquela carência horripilante e aquela insegurança de estar sozinha já chegando aos trinta e “será que minha pessoa no mundo não vai aparecer?”. Claro que bate tudo isso. Mas, eu juro, migas, eu continuo crendo no amor, continuo acreditando que todos que se foram, foram pra abrir espaço pro verdadeiro que está a caminho.
Eu acredito fielmente que a gente atrai o que emana, o que acredita, o que visualiza. Sendo assim, como pode você atrair um morzão se você acredita e propaga “homem nenhum presta”, “tudo igual” e etc?
Confesso que depois de seis meses, app de relacionamento cansa a beleza. Porque são sempre as mesmas conversas, perguntas e blá blá blá. Ao mesmo tempo, se não for em aplicativo, parece que não conhecemos ninguém, porque na rua/festa/evento, a maioria dos boys aqui nem olham pra você. Não é cultura deles chegar em mulher na balada. Então, a gente continua aí na luta, instala app, cansa, desinstala app, cansa, instala app... desinstala... até o dia que não vai precisar mais instalar.
É isso. Apesar do que te pesa, no amor, believe!
Seguimos na fé, manas!

Dêem uma ajuda seguindo meu insta, please: @livia.hardman ;)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Uma viagem (des)encantada

Hey people!!!
Faz um tempaço que não escrevo e, confesso, ficou pra trás muita coisa que eu queria ter dito aqui mas por correria de trabalho ou gandaia haha acabei deixando passar.
Mas, relatar minha trip de réveillon eu faço questão! E, o principal objetivo é chamar a atenção pra que ninguém passe pelos mesmos perrengues!
Sim, foi uma trip do horror, uma maré de coisas ruins que pariu um desgaste emocional imenso, até porque, quando você tá longe de casa, do seu país, das suas pessoas amadas, você já fica um bom bocado mais fragilizada, ainda mais nessas datas comemorativas.
Para o réveillon, eu e uma amiga programamos uma trip. Três países entre 28/12 e 2/1. Bruxelas, Luxemburgo e Berlim (a virada do ano). Sendo os dois primeiros lugares pequenos, achamos que seria um tempo curto mas suficiente pra ver algo, já que esse era o tempo que tínhamos e o que o nosso bolso podia pagar.
Então, compramos as passagens de ônibus/trem, fechamos os hostels e fomos.
No primeiro dia, em Bruxelas, minha amiga acordou com uma dor insuportável na coluna e precisamos procurar um hospital. Tinha que ser público, claro! Porque dinheiro de aupair não rola de pagar médico, minha gente!
O primeiro que fomos era particular e eles nos indicaram um hospital público. Era muito longe, então, pegamos um Uber. Chegando lá, nenhum ser falava inglês, apenas francês.
Aos pouquinhos e com a ajuda do Google tradutor fomos nos entendendo e quando a secretária acabou de fazer o cadastro da minha amiga eu resolvi apenas confirmar, dizendo: “Não precisamos pagar, né? Porque como é um hospital público…”. Sorte que eu perguntei! Porque a resposta da secretária foi: “Sim, é público, mas tendo feito o cadastro dela aqui, verifiquei que ela tem condições de pagar, então, vocês tem que pagar o atendimento.”
Oi?? Não é público essa bagaça? Que condição que a menina tem de pagar?
No Brasil, pode até ser uma bosta o atendimento público, mas seja você andante ou milionário, você será atendido gratuitamente (se você conseguir atendimento, rs).
Não tínhamos dinheiro, então fomos embora e minha amiga ficou na base de paracetamol pra aguentar a batida da trip até que voltássemos pra Holanda e ela pudesse pedir ajuda pra host dela.
Ok!
De Bruxelas, seguimos pra Luxemburgo.
Quando fomos pegar o ônibus pra lá, nos perdemos na estação e ficou impossível achar o ônibus. Foi desesperador! Corremos feito loucas. Com malas, com dor, com tudo. A partida era às 18:30. Acreditem se quiserem: chegamos na porta do ônibus, suando em bicas, às 18:29.
Aproveitamos Luxemburgo e, ao fim do dia, pegamos um trem para Berlim.
E é aqui, meus caros, que as coisas pioram significativamente.
Viemos a descobrir que o trem faria três baldeações. E, uma delas duraria quatro horas, da 1 da manhã às 5 da manhã.
Só o que a gente não fazia ideia era de como era o lugar dessa baldeação. Uma tal cidade na Alemanha chamada Gerolstein, e eu nunca mais vou me esquecer desse nome.
Quando o trem parou, descemos e, o que vimos foi um grande NADA com chuva e frio. Muito frio!
A estação era deserta, aberta, quero dizer, sem lugar fechado.. Não havia uma alma viva. Nada de algum bar ou hotel perto, nada! Bateu um medo descompassado de estarmos ali sozinhas, sem abrigo pra frio, sem ninguém, sem ter pra quem pedir socorro se algo acontecesse… porque o agravante acho que é a nossa mente de brasileiro que avista perigo de longe, mesmo quando dizem que algo é seguro (como a Europa, por exemplo).
Olhamos em volta e avistamos um lugar onde talvez pudéssemos ficar, era tipo um correio onde tem aqueles monte de caixinhas trancadas pro povo pegar suas correspondências. Minha amiga foi ate lá checar enquanto eu fiquei com as nossas malas, sozinha, me borrando de medo. Ela voltou com uma notícia que, a princípio, não sabíamos se era boa ou ruim haha... negócio era o seguinte, podíamos entrar, o local era fechado e aquecido, mas tinha um morador de rua “dormindo” lá.
Minha amiga explicou pra ele o que havia acontecido e ele disse que podíamos passar a madrugada.
Entrei no lugar já chorando (dramática, né?), eu tava com muito medo.
Peguei meu cachecol, que era grosso, e pus no chão pra gente sentar em cima e tentar não pegar muita friagem.
O cara começou (querendo ou não) a assustar a gente. Ele ficava falando enquanto parecia estar dormindo e, do nada, abria os olhos (bem com cara de louquinho 😵) e, o ponto máximo foi quando ele pegou uma caixinha de metal que tinha nas mãos e arremessou na gente, batendo no pé da minha amiga e fazendo um barulhão no meio daquele silêncio cheio de medo. Nossos corações pularam pela boca e a gente levantou pra sair fora… pra piorar, ele deu de levantar junto e, meww… sem ser repetitiva, mas que medo da porra!
Saímos de lá e ainda tentamos pedir ajuda pra algumas poucas pessoas que passaram pela rua, mas em vão. Todo mundo só dizia que não tinha perigo.
Chegamos à conclusão de que a melhor solução seria ficarmos quietas na estação.
Fomos pra lá, sentamos e começamos a ouvir um barulho. Quando olhamos pro lado, tcharammmm: rato. Rato que transitava pra lá e pra cá, bem a vontade, ao nosso lado (afinal, a gente que tava na "casa" dele). Decidimos então ficar em pé caso precisássemos correr do bicho. 🙄
Lá ficamos por mais de horas. Dançamos, cantamos, fizemos alongamento, tivemos os pés congelados e teve até um segundo mendigo que chegou até nós, apontando sua muleta e brigando porque estávamos fazendo barulho e atrapalhando o sono dele, que tentava dormir no ponto de ônibus.
Mas, como diz minha mãe, não importa quão ruim, longa e escura foi a noite, o sol sempre nasce e nasce pra todos.
Nasceu lá na tal de Gerolstein também.
Pegamos o outro trem e finalmente chegamos em Berlim, mortas.
Fomos pro hostel e dormimos no dia 31 até umas cinco da tarde. Levantamos, nos arrumamos e saímos pra ir pro tal Portão de Brandenburg, onde é realizada uma das maiores e melhores festas de réveillon da Europa.
Nós andamos quilômetros, quilômetros e quilômetros e nunca que chegava no tal portão. Pra piorar o trajeto, eles têm uma cultura de comprar vários fogos de artifício e ficar soltando no meio da rua, no meio das pessoas e, literalmente, parece que vai cair na sua cabeça. Eu achei muito perigoso e desconfortável.
Enfim, a gente chegou.
Abro parênteses para acrescentar algo… ()
Até aqui, ocultei uma informação mega importante que contribuiu bastante pra foder tudo ainda mais. Não me julguem! Mas, eu não sei que diabos de contas eu fiz na minha cabeça antes de sair de casa pra essa trip, que eu deixei grande quantia de dinheiro em casa e não levei dinheiro suficiente pra viajar (e não tinha no banco). Meu dinheiro em mãos acabou. Então, minha amiga dividiu o dinheiro dela comigo, o que me gerou uma culpa imensa… porque ela fez tudo direitinho, levou dinheiro pra ter uma viagem agradável e, por conta do meu erro, eu nos coloquei em uma situação em que estávamos as duas poupando pra conseguir pelo menos comer. Juro!
Dinheiro pra trem? No way… andávamos de trem na ilegalidade rs, sem ticket. Na boa, nunca façam isso.
Fecha parênteses.
Lá no portão seguimos esperando a queima de fogos. Ela aconteceu e, na boa, que decepção!
Tenho meio dó deles acharem que isso é uma big festa! Por isso que gringo apaixona no Brasil uéh…
00:08 milhares de pessoas fazendo o mesmo caminho quilométrico pra voltar pra casa.
Foi tudo que durou, 8 minutos. Meio que se fosse um filme podia chamar “8 Km pra 8 min”.
Voltamos pro hostel, dormimos e no outro dia saímos pra passear.
Depois de tudo, confesso, a gente não tava animada, a gente tava com fome, com sono, irritação e etc. Mas fomos. Conhecemos alguns pontos turísticos e entre um e outro precisamos pegar um TRAM (que é tipo um bondinho que tem nas ruas da Europa).
Entramos e, sem dinheiro pro ticket, sentamos.
Vieram dois fiscais e nos pediram o ticket (isso acontece apenas vez ou outra mas como a gente tava na maré da falta de sorte, aconteceu com a gente). Dissemos que tínhamos tentado comprar, mas não tínhamos conseguido, se eles podiam ajudar e tal e fizemos cara de perdidas. Totalmente sem sucesso.
Os caras pararam o trenzinho, desceram com a gente, pediram passaporte e ID e deram pra cada uma 60 euros em multa.
Manooooo! Chorei, expliquei, implorei. Não tem conversa, os caras são duros! 14 dias de prazo pra pagar a multa.
Depois disso, só olhei pra minha amiga e disse: “não aguento mais. Tô indo pro hostel e só saio de lá pra ir embora.”
Fomos pra estação, COMPRAMOS TICKET e voltamos pro hostel. Eu inundei de chorar. Durante todos os 40 minutos de percurso, chorei como se não houvesse amanhã. Era cansaço, culpa (porque se eu tivesse levado dinheiro direito, não tínhamos deixado de comprar a passagem de trem), tava puta por estar tendo um primeiro dia do ano infernal, querendo voltar dali direto pro Brasil.
Graças a Deus, as coisas melhoraram depois de tudo isso. Até porque não sei o que aconteceria se piorassem… mas, eu e minha amiga conversamos, eu me senti menos culpada e mais aliviada, também fiz vídeo com minha irmã e minha melhor amiga no Brasil e, cada um a seu jeito, foi me ajudando a acalmar o coração.
No dia seguinte, pegamos o bondão de volta pra Holanda. 10 horas de viagem, sem pausa, mas aí eu já não tava ligando, eu tava indo embora pra “casa” e eu tinha recebido uma mensagem MUITO inesperada de alguém que encheu meu coração alegria (segredo!). Conversamos a viagem toda, o que fez passar mais rapidinho hehe
Quero contar da sensação MARAVILHOSA de chegar em casa, na Holanda. E aí eu percebi que tô mesmo considerando isso aqui minha casa. Cheguei, abracei meu kid, minha host, disse que tava com muita fome porque só tinha comido de manhã, comi a janta da hosta, tomei aquele banho e, no dia seguinte, dormi pra refazer cada minuto não dormido na viagem.
Demais!
Postei várias fotos da viagem no Instagram. Sempre sorrindo. Fica, então, a reflexão: não se enganem com redes sociais. Não é sempre, claro, mas às vezes pode haver um perrengue e uma tristeza imensas atrás daquela pessoa super feliz que você assiste da tela do seu celular.
Por fim, dicas: chequem as baldeações do trem antes de comprar a passagem, levem dinheiro suficiente e uma reserva, nunca andem de trem sem ticket e evitem fazer tantos países em poucos dias… porque se o cansaço bate, você não curte, real!
Ahhhhhhhhhhh, e minha maior e mais recente descoberta, a Europa não é tão o máximo assim. Paremos de inferiorizar o Brasil (eu mesma sempre fiz isso) - assunto pra outro post.
No mais, go ahead!
Best regards.